Quando Jussara Botelho fez as contas, chegou à conclusão de que não
valeria a pena voltar a trabalhar e deixar os dois filhos, que hoje
estão com 13 e 10 anos de idade, com uma babá ou em creches. A carioca
que já tinha abandonado a faculdade de administração no Rio de Janeiro
para se dedicar ao trabalho, deixou o emprego para acompanhar o marido
que foi transferido para Pernambuco.
“Como já estava sem trabalhar desde a mudança de cidade, optei por
[acompanhá-lo] e tentar voltar a trabalhar lá. Mas a Luíza nasceu nesse
período e, como era muito pequena, achei que não valia a pena. Pouco
tempo depois, engravidei do Pedro”, contou. O projeto de procurar um
novo emprego foi novamente adiado, quando, nos primeiros anos, Pedro foi
diagnosticado com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
“Os médicos queriam tratá-lo com remédios, mas eu fui contra e preferi
passar um tempo com eles e evitar que Pedro tivesse dificuldades no
futuro, na escola. Tive algumas dificuldades financeiras, mas não me
arrependo”.
Depois da separação, Jussara voltou para o Rio de Janeiro, em 2007.
Com as crianças mais velhas, ela conseguiu um emprego e, no ano passado,
foi aprovada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e conseguiu uma
vaga no curso de pedagogia na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). “É bem complexo porque hoje trabalho das 9h às 18h e tenho aula
das 18h30 às 22h. Normalmente, eu estudo de madrugada, quando eles
dormem”.
Simone Príncipe de Azevedo Treib, que cursa o quarto ano da
Faculdade de Psicologia em Campo Grande (MS), também optou com convicção
por deixar para trás os dois primeiros anos do curso universitário para
se dedicar às duas filhas. “Poderia ter voltado a estudar e trabalhar.
Mas priorizei ficar com minhas filhas que estão com 4 e 10 anos, até a
alfabetização das duas”.
Simone não nega que sentiu falta do trabalho, mas diz que não tem
qualquer arrependimento da opção que fez. “É nítido que o vínculo que
uma criança que cresce bem assessorada pelos pais apresenta diferenças
significativas em relação às outras. Não foi fácil deixar os estudos e
parar a vida profissional, mas o resultado é gratificante”, garantiu.
Hoje, Simone dorme cinco horas por noite para continuar acompanhando as
filhas e prosseguir com os estudos e o estágio em uma clínica de
psicologia na cidade.
Jussara e Simone tiveram condições de fazer a escolha e não
abandonaram definitivamente seus projetos pessoais. Nas gerações
anteriores, a maioria das mulheres sequer começavam os estudos. Hoje,
muitas conseguem trabalhar, estudar e cuidar dos filhos. “A mulher sai
de casa e consegue manter todas as atividades. As mulheres estão
conciliando melhor essas atividades e muitas escolhem ter menos filhos.
Para todas as escolhas, há ônus e bônus”, avaliou a ministra Eleonora
Menecucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Em entrevista à EBC, a ministra lembrou que as
mulheres “estão muito escolarizadas”. Os últimos dados divulgados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, já
mostravam a tendência de mudança. Enquanto 61,2% das trabalhadoras
tinham 11 anos ou mais de estudo, pouco mais da metade dos homens
(53,2%) tinha o mesmo perfil. O percentual de mulheres ocupadas com
curso de nível superior completo era 19,6%, enquanto o de homens era
14,2%.
“As mulheres estão muito escolarizadas. Mas isso ainda não reflete
no mercado de trabalho. As mulheres não conseguem ascender em cargos
importantes, porque o mercado ainda é muito patriarcal. É mais uma
questão de paradigma e de mentalidade”, avaliou a ministra. Agencia Brasil.