Um
casarão de pedra, simbólico espaço da tradição, desvelos e angústias. Uma
família enclausurada no tempo e na austeridade dos próprios costumes,
agrilhoada a uma tradição que a um só tempo era a sua glória e a sua
desventura. Em meio a isso, Olga, a dissidente. Aquela que intimamente contesta
a imposição da tradição familiar. A menina que no seu silêncio irrequieto
afronta os costumes que se lhe afiguram como prisões invisíveis, mas vividos
dentro de uma prisão de pedra. O casarão é a prisão; a família a prisioneira de
si mesma. Olga vê, sente, percebe o que os demais tentam renegar, ou seja, a
decadência da família.
É
com histórias como esta que Carvalho Neto[1]
surpreende. A narrativa de Casa pétrea de
dois alpendres já seria mais do que suficiente para confirmar o talento e a
engenhosidade do autor. Mas ele vai além. Consegue construir narrativas fluidas
e bem engendradas, nas quais desfilam personagens que vão do prosaico e cômico
ao dramático e misterioso. Como se vê, por exemplo, no caso do jovem tímido de No caminho de volta, que pela primeira
vez vai a um bordel, levado pelo tio de gestos espalhafatosos, e lá se vê entre
o nervosismo ante a sua iniciação
sexual e a confusão dos sentidos por achar que a prostituta a iniciá-lo e a mulher por quem tem forte atração parecem ser a mesma pessoa. No final, uma luz apagada é a única coisa a acender alguma possibilidade de resposta. Ou ainda como no caso do jovem que possui uma pequena loja numa rodoviária, onde também escreve cartas de encomenda, as quais nunca entrega, tem fixação por aquilo que acha ser um misterioso ritual de um estranho albino e ainda por cima é um colecionador de calcinhas. Esta personagem, aliás protagonista do livro Plástico Bolha, ao tentar desvendar o mistério do albino e dos plenilúnios, envolvendo-se em outras tantas peripécias, acaba por revelar-se ao leitor como alguém que precisa resolver o enigma de si mesmo.
sexual e a confusão dos sentidos por achar que a prostituta a iniciá-lo e a mulher por quem tem forte atração parecem ser a mesma pessoa. No final, uma luz apagada é a única coisa a acender alguma possibilidade de resposta. Ou ainda como no caso do jovem que possui uma pequena loja numa rodoviária, onde também escreve cartas de encomenda, as quais nunca entrega, tem fixação por aquilo que acha ser um misterioso ritual de um estranho albino e ainda por cima é um colecionador de calcinhas. Esta personagem, aliás protagonista do livro Plástico Bolha, ao tentar desvendar o mistério do albino e dos plenilúnios, envolvendo-se em outras tantas peripécias, acaba por revelar-se ao leitor como alguém que precisa resolver o enigma de si mesmo.
Estas
são algumas das personagens singulares e ao mesmo tempo plurais que trafegam pelos
textos de Carvalho Neto. Assim é que ele constrói uma narrativa versátil,
fluente, vertiginosa, inventiva, que nos faz pensar que qualquer das suas
histórias pode muito bem encaixar-se nas experiências pregressas do leitor. Há
nos textos de Carvalho Neto uma vibração característica dos literatos que
buscam na diversidade do comportamento humano os moldes para a composição da
obra, resultando daí uma literatura de inegável plasticidade, que se estende
numa linguagem e estilo bem colocados, sem precisar recorrer a rebuscamentos
pomposos nem a simulacros de trivialidade. No final, a narrativa transcorre tranquila,
perene e firme em sua proposta, envolvendo inteligentemente o leitor, num interessante
jogo literário em que se destaca a força da inventividade.
Quem
se dispuser a ler Carvalho Neto não se arrependerá, ficará gratamente surpreso
com a força do seu texto.
Prof.
Me. Otávio Assis - Docente da UNEB.
[1] Pedro Anselmo Carvalho Neto é
professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, com mestrado acadêmico em
Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS.