A igreja Católica é reconhecida, inclusive por boa parte dos
seus detratores, como uma das instituições que mais agem no planeta para
combater a fome, particularmente entre as crianças. Além de instituições como a
Cáritas, com presença mundial, e congregações religiosas integralmente
dedicadas ao cuidado dos mais necessitados por amor a Deus, como as
Missionárias da Caridade de Santa Teresa de Calcutá, um dos exemplos mais
conhecidos mundo afora vem do Brasil: a Pastoral da Criança, fundada pela
médica sanitarista católica Zilda Arns Neumann. As iniciativas dirigidas pela
irmã do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, falecida em 2010 durante o histórico terremoto
que devastou o Haiti, foram responsáveis por uma redução drástica da
mortalidade infantil em todas as áreas onde foram implantadas – usando com
eficiência um mínimo de verba e recorrendo a meios muito simples, acessíveis e
efetivos, como a multimistura e o soro caseiro.
Neste mês, a trágica morte da médica, pediatra e sanitarista
que dedicou a vida às crianças e aos mais pobres completou já 10 anos.
*Foto: A médica, pediatra e sanitarista católica, fundadora
da Pastoral da Criança, morreu no terremoto que devastou o Haiti em 2010. Zilda
Arns esteve em Jequié/Bahia, em 26 de março de 2009, para o lançamento do
documentário A
Grande Moeda, produzido pelo documentarista Dado Galvão. O filme tem
participação especial da pediatra missionária e mostra o cotidiano dos
voluntários da Pastoral da Pastoral da Criança em cidades da Diocese de Jequié.
O terremoto de 7 graus na escala Richter, que praticamente
destruiu o Haiti, aconteceu no dia 12 de janeiro de 2010, por volta das 17h
locais (20h no Brasil). Dona Zilda estava na escada de acesso ao segundo andar
de um prédio de formação pastoral da Igreja em Porto Príncipe, a capital
haitiana.
E ela estava lá justamente porque prolongou o tempo
inicialmente previsto para atender as pessoas no local. Sua palestra deveria
ter acabado às 16h30, mas se estendeu porque dezenas de religiosos presentes
continuaram apresentando perguntas sobre como iniciar os trabalhos de combate à
desnutrição infantil por meio da Pastoral da Criança. Era para isso, aliás, que
dona Zilda estava no mais pobre dos países das Américas naquele dia. Mesmo após
a sessão extra de perguntas, ela ainda permaneceu no terceiro andar do prédio
para atender individualmente alguns padres que queriam mais informações e
intercâmbios de experiências.
Quando finalmente estava prestes a sair, acompanhada pela
irmã Rosângela Altoé e pelo pe. Willian, coordenador do centro de formação, o
abalo sísmico a fez perder o equilíbrio quando já se dirigia às escadas.
O corpo de dona Zilda Arns Neumann foi encontrado na manhã
seguinte graças à ajuda direta do pe. Willian, que, mesmo sob choque, pôde
apontar o local exato em que ela estava no momento da tragédia. Foram os
soldados brasileiros em missão de paz no Haiti que descobriram os pés da médica
ao retirarem escombros do local.
Ao saber da morte da irmã, o cardeal dom Paulo Evaristo
Arns, que fora arcebispo de São Paulo de 1970 a 1998 e que faleceria em
dezembro de 2016, declarou que, quanto mais refletia sobre o exemplo de Zilda
em seu trabalho pelas crianças e pelas mães pobres, mais constatava que “a
esperança nasce com a pessoa humana e se realiza plenamente no Deus-Criador.
Sinto que foi e é esse o sentido da vida e ação da doutora Zilda“.
Dona Zilda Arns teve seis filhos e dez netos. Ela acabou
sendo também a “mãe” de um dos netos, Danilo, depois que a mãe dele e filha
dela, Silvia Arns, morreu num acidente de carro em 2003.